Nas últimas décadas, o Brasil se destacou como líder em inovação financeira na América Latina. O avanço das fintechs gerou uma onda de soluções que estão mudando o cotidiano de milhões de brasileiros.
Este artigo explora como essas startups estão promovendo mais de 250 milhões de contas digitais, gerando emprego, renda e inclusão social.
O Brasil concentra atualmente mais de 1.700 fintechs em operação, representando 58,7% de todas as startups financeiras da região. Esse ecossistema dinâmico criou 100 mil empregos diretos em fintechs e fortaleceu a reputação do país como polo de inovação.
Entre 2017 e 2023, o número de fintechs na América Latina cresceu 340%, saltando de 703 para 3.069 empresas. Esse ritmo acelerado se deve à combinação de avanços tecnológicos e demanda por serviços mais acessíveis.
Grandes investidores nacionais e internacionais enxergam nas fintechs brasileiras uma oportunidade de impacto e retorno. O aporte de fundos de capital de risco impulsiona pesquisa, desenvolvimento e adoção de soluções financeiras criativas.
Apesar do crescimento, ainda existem 45 milhões de desbancarizados no Brasil, equivalente a 29% da população adulta. Esse público movimenta mais de R$ 800 bilhões por ano sem acesso pleno a serviços financeiros.
As classes C, D e E somam 112,4 milhões de pessoas que vivem com até R$ 22 por dia, qualificadas como parcelas da população não atendida pelo sistema tradicional. A falta de crédito, baixa escolaridade financeira e desconfiança agravam a exclusão.
Dados do Plano CDE indicam que 57% das pessoas de baixa renda têm conta bancária, mas somente 7% a utilizam mais de uma vez ao mês. Mais de 40% da população ativa está com dívidas em atraso, demonstrando a urgência de soluções de inclusão.
As fintechs de impacto social nascem com a missão de atender quem está à margem do sistema financeiro tradicional. Elas aplicam tecnologia avançada e design centrado no usuário para criar produtos acessíveis e justos.
Essas empresas oferecem serviços como pagamentos, microcrédito, carteiras digitais e educação financeira. O diferencial está na análise contínua do comportamento do usuário para personalizar ofertas e reduzir riscos.
Hoje, representam cerca de 10% do total de fintechs ativas no Brasil, mas têm potencial de expansão enorme. A concentração de serviços em grandes bancos deixa “espaços em branco” que essas startups podem preencher.
Veja a seguir três exemplos de fintechs que comprovam como a tecnologia pode gerar resultado positivo à sociedade e transformar economias locais.
Na comunidade da Maré, um dos maiores complexos de favelas do Rio de Janeiro, não havia agência bancária nem caixa eletrônico. Os moradores tinham de se deslocar para bairros distantes para pagar contas e receber benefícios.
O Banco Maré criou um cartão pré-pago com bandeira Mastercard, além de terminais de autoatendimento dentro da comunidade. Como resultado, o número de contas em atraso caiu 65% e a circulação de dinheiro local aumentou.
A receita da fintech vem de uma mensalidade de R$ 10 pelo uso do cartão, taxas cobradas sobre boletos pagos e pequeníssimas comissões nas transações realizadas pelas maquininhas, garantindo sustentabilidade econômica.
A Noverde nasceu com o propósito de oferecer crédito online para as classes C e D, usando algoritmos que avaliam dados alternativos além do histórico de CPF. Essa abordagem permitiu conceder empréstimos justos a quem estava negativado.
Validada pelo programa InovaBra do Bradesco e apoiada pela Wyra e BR Startups, a plataforma já negociou dívidas de mais de 12 milhões de CPFs. A fintech segue expandindo parcerias com grandes credores como Santander e Porto Seguro.
O próximo foco da Noverde será educação financeira, com o objetivo de melhorar o hábito de poupar e reduzir o endividamento de seus clientes, promovendo uma mudança cultural de longo prazo.
Atuando fortemente no Norte e no Nordeste, a Celcoin transformou pequenos estabelecimentos comerciais em correspondentes bancários. Dessa forma, empreendedores locais aumentaram sua renda e ofereceram serviços bancários aos vizinhos.
Em 2018, a empresa movimentou cerca de R$ 1 bilhão em transações. Cerca de 75% dos agentes afirmam que o ponto de atendimento virou o “banco da cidade”, e muitos relatam aumentar em até 20% a renda familiar.
Com investimentos da Vox Capital e reconhecimento no mercado, a Celcoin segue ampliando sua rede de agentes e serviços, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social de regiões historicamente carentes.
Esses exemplos demonstram que o verdadeiro valor das fintechs de impacto social está na capacidade de unir tecnologia e propósito, gerando inclusão financeira e bem-estar para milhões de pessoas que antes eram ignoradas pelo sistema.
Referências